13 de março de 2009

Tá com medo? Parte II

E a gente segue com o terror ....


7 – O Gabinete do Dr. Caligari - (Das Cabinet des Dr. Caligari, Alemanha, 1920)

Agora sim um clássico. Concebido em 1919, O Gabinete do Dr. Caligari é referência máxima em estilo e fotografia até hoje. Uma das primeiras obras do Expressionismo Alemão – movimento da arte que privilegiava os efeitos de luz, maquiagens carregadas que destacam as expressões dos personagens, cenários distorcidos, clima psicológico e influência de obras surrealistas, o filme do alemão Robert Wiene (e roteiro de Fritz Lang, de Metrópoles) não precisa usar palavras para espantar. As belíssimas imagens, a sombria trilha sonora e as atuações dramáticas e exageradas (propositalmente) são extraordinárias e fazem desse um dos melhores filmes de horror de todos os tempos.

Opinião:

A trama é simples e original: Dr. Caligari é um velho místico que domina as técnicas da hipnose e perambula pelas cidades do norte da Itália apresentado-se em quermesses ao lado de um sonâmbulo chamado Cesare. O caso é que o velho usa de seus métodos para induzir o jovem Cesare a cometer assassinatos nos vilarejos. Como Caligari esconde um boneco no caixão onde Cesare dorme, os crimes ficam indecifráveis. Porém, o jovem sonâmbulo passa a perambular pela cidade e algo dá errado. Realizado em uma das fases mais conturbadas da história alemã (o fim da primeira guerra mundial) O Gabinete do Dr. Caligari possui uma aura absolutamente sufocante e pessimista. Talvez por isso, a partir de imagens insólitas – que mais parecem um constante pesadelo – o filme mudo foge dos padrões naturais das histórias de horror e relata com extrema competência a aflição e a insanidade humana. Um filme para ver e rever.

6- O Bebê de Rosemary - (Rosemary's Baby, EUA, 1968)

E aí vem o diabo. Ah, o diabo. Tem maldade no meio, coisa ruim, espírito zombeteiro? Tem culpa o diabo. Bacana é perceber que essa figura da mitologia cristã tão antiga sempre gerou – e sempre irá gerar – boas histórias apavorantes. Isso percebeu o diretor Roman Polansky (e a escritora do livro Ira Levin) ao conceber O Bebê de Rosemary. O filme narra a história de (adivinhem?) Rosemary, moça certinha que se muda para um apartamento em Nova York com seu marido. É apresentada a um simpático casal de velhinhos e com eles faz amizade. Não demora muito, porém, para começar a desconfiar que esses estão envolvidos, junto com seu esposo, em rituais macabros de magia negra. Rosemary, então, descobre que está grávida e tenta manter seu bebê longe de algum mal que possam lhe fazer. Mas uma trágica surpresa está por vir.

Opinião:

Não basta ter uma idéia brilhante e filmá-la. É preciso saber como fazer. E Polansky fez com maestria. Desde o momento em que somos apresentados ao fantasmagórico apartamento até o derradeiro ato final, toda a atmosfera de suspense e temor é construída de forma gradativa e, por isso, brilhante. Considerado blasfemo pela igreja católica – e outras que tentaram impedir a exibição do filme – O Bebê de Rosemary é um dos melhores exemplares do terror psicológico, ou seja, não há violência explícita, mas sim um clima de paranóia constante e um final polêmico. Além da espetacular direção, méritos também para as excelentes atuações de Mia Farrow e Ruth Gordon (a velhinha vizinha que levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante),

5 – A Noite dos Mortos-Vivos - (Night of the Living Dead / Night of the Flesh Eaters, EUA, 1968)

Agora esqueçam o terror psicológico. Em 1968, (mesmo ano de O Bebê de Rosemary), um tal George Romero, diretor de cinema, inventou uma história que começava dentro de um cemitério. Enquanto a moça rezava pelos seus pais, seu irmão era atacado por um humano que não parecia estar nem vivo e nem morto. A partir desse momento, A Noite dos Mortos-Vivos se tornaria um dos filmes mais importantes do horror mundial, pois deixava para trás o “comportado” estilo de horror psicológico para assumir um grafismo doentio, com cenas violentas e situações explicitas. Com coragem e inventividade, Romero revolucionou não só o gênero como também o cinema.

Opinião:

Rodado em branco e preto por falta de grana, Romero juntou os amigos para atuar, outros para ajudar com a maquiagem e outro, dono de açougue – que forneceu a carne que os zumbis degustam com tanto prazer – e realizou a loucura. Hoje, A Noite dos Mortos-Vivos não é copiado e re-copiado descaradamente diversas vezes apenas por ser uma fórmula que deu certo, mas porque é muito bom. Imagine você se deparar com um morto-vivo, sem saber de onde veio, sem saber o que fazer para se livrar, vindo em sua direção. Aí você se esconde numa casa. E então começam a aparecer outros, e mais, e mais. Que raio de epidemia é essa? É contagioso? Que aconteceu com as pessoas? Esse é o clima do filme que introduziu os zumbis na cultura pop, cujo final apocalíptico fez com fosse duramente criticado.

4- O Massacre da Serra Elétrica - (The Texas Chainsaw Massacre, EUA, 1974)

Quando O Massacre da Serra Elétrica começa, uma arrepiante narração informa que o filme que será apresentado foi baseado em um fato real e um dos mais bizarros crimes na história norte-americana. Na verdade, apenas charme. De real mesmo apenas a “homenagem” a Ed Gein, um verdadeiro psicopata que, assim como o personagem do filme, Leatherface, cortava o rosto dos cadáveres para usar como máscara. Mais nada. Rodado em 1974, O Massacre... conta a história de um grupo de jovens que se perde em uma rodovia e acaba sendo perseguido por uma família de maníacos canibais. O que tem de mais? O filme é perturbador, assustador e, por ter sido filmado em 16mm e ter uma estética meio amadora, passa a sensação de realidade. O ar grotesco e sufocante fez com que o filme fosse proibido em muitos países, só podendo ser liberado anos mais tarde.

Opinião:

Pergunte para uma pessoa qualquer: “O que é O Massacre da Serra Elétrica?”. Ela pode nunca ter assistido, mas vai saber que é um filme de terror doentio. Tudo porque a obra se transformou, indiscutivelmente, num dos maiores clássicos do cinema e, além de influenciar centenas de filmes, faz parte da cultura popular mundial. Méritos totais para o diretor Tobe Hooper (Poltergeist). Foi dele a idéia de apavorar o espectador com cenas violentas, porém sem exageros, sem sangue, sem dilacerações. E esse é o grande mérito do filme – além da filmagem “caseira” – apresentar o aterrorizante sem necessidade de explicitar. Então veremos a mocinha correndo do vilão com a serra elétrica na mão, marteladas na cabeça, pedaços de gente, mas, em momento algum, a ação é consumada. O estrago vai depender da sua imaginação. Mas não se preocupe com isso. As sombras apresentadas pela iluminação escura, o cenário desértico do Texas e os gritos de pavor da molecada vão te ajudar.

O melhor vem no final. Em breve a parte III.

Observação da Leila:

Continuamos com o canivete suiço ...


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